Saúde

Banho de gelo: bem-estar ou modinha gelada?

Nos últimos meses, a crioimersão - o famoso banho de gelo - dominou as redes sociais. Atletas, celebridades e influenciadores compartilham vídeos mergulhando em banheiras congeladas com a mesma naturalidade com que preparam um café. A promessa? Redução do estresse, melhora do humor, fortalecimento da imunidade e até aumento da longevidade. Mas será que esse ritual gelado é mesmo um caminho seguro para o bem-estar? Ou estamos diante de mais uma prática elevada ao status de “autocuidado performático”?
A exposição controlada ao frio tem sido estudada há décadas. A imersão em água gelada, por períodos curtos e com supervisão adequada, pode de fato ativar respostas fisiológicas interessantes. Um estudo publicado na European Journal of Applied Physiology apontou que a prática pode estimular a liberação de endorfinas e noradrenalina, substâncias associadas ao alívio da dor e ao bem-estar emocional. Outro estudo, da International Journal of Circumpolar Health, mostrou que praticantes regulares relataram melhora na qualidade do sono e sensação de mais energia ao longo do dia.

Além disso, atletas de alta performance utilizam banhos frios como recurso de recuperação muscular, especialmente após treinos extenuantes. Nesse contexto, a crioimersão ajuda a reduzir microlesões e dores musculares de forma pontual.

Mas é justamente aí que entra o alerta: o efeito positivo da exposição ao frio depende diretamente do contexto. Para quem treina de forma intensa e frequente, o banho gelado pode ajudar na recuperação. Já para quem tem uma rotina mais sedentária ou sofre de problemas cardíacos, por exemplo, os riscos podem superar os benefícios.

Estudos ainda não comprovam com robustez os supostos efeitos anti-inflamatórios de longo prazo. E há registros preocupantes: hipotermia, arritmias cardíacas e até convulsões em pessoas com predisposição neurológica. Além disso, a prática mal orientada pode gerar estresse fisiológico desnecessário, interferindo negativamente no equilíbrio hormonal.

Existe também uma questão cultural e simbólica em torno do banho de gelo. Em tempos de alta performance, a prática vem sendo usada, e exibida, como um novo ritual de disciplina. Mergulhar no gelo se tornou, em muitos casos, um atestado de força mental, coragem e domínio sobre o corpo. Mas será que precisamos mesmo nos submeter ao desconforto extremo para provar autocuidado?

Aqui na BloomClub, a gente prefere outro tipo de pergunta: esse hábito me nutre ou me desgasta? Ele me aproxima de mim ou só de um ideal estético?

Autocuidado não precisa, e não deve, ser sofrimento disfarçado de força.

Se a ideia do banho de gelo te atrai, vá com calma. Procure orientação profissional, respeite seus limites, entenda seu corpo e, principalmente, pergunte-se: isso faz sentido pra minha vida agora? Porque bem-estar de verdade não se mede pela temperatura da banheira, mas pelo quanto você se sente presente, conectada e inteira dentro de si.

Se for pra mergulhar… que seja com propósito.