Saúde

Nutrir, não excluir: o caminho do meio na alimentação

Seu corpo não lê tendências. Ele sente. Enquanto dietas entram e saem de cena como peças de uma moda rápida, a saúde permanece — construída com tempo, presença e escuta. 
Já foi o azeite. Já foi o ovo, a manteiga, o glúten, a lactose. O que hoje é vilão, amanhã vira mocinho. E nesse ziguezague de certezas voláteis, pouca gente para e se pergunta: o que meu corpo realmente precisa? O que me faz bem — e o que estou cortando por puro hábito ou influência?


O glúten é um bom exemplo. Trata-se de uma proteína naturalmente presente no trigo, na cevada e no centeio. Para quem tem doença celíaca ou intolerância diagnosticada, sua exclusão da dieta é inegociável. Mas para quem simplesmente elimina o glúten sem necessidade, os riscos podem superar os benefícios. Produtos "gluten free", geralmente ultraprocessados, tendem a ter menos fibras, vitaminas e minerais, e compensam sabor e textura com mais gordura, mais açúcar, mais aditivos. Resultado? Não só o objetivo de emagrecimento se perde, como ainda podem surgir desequilíbrios nutricionais silenciosos.


Esse é só um recorte de um cenário mais amplo: uma cultura alimentar que trocou a escuta interna por algoritmos. Em vez de conexão com o corpo, seguimos orientações genéricas. Em vez de prazer, vigilância. E, muitas vezes, isso gera culpa, compulsão, desconforto.


Mas comer não é só nutrição. Comer também é prazer, vínculo, memória. É afeto que passa pelo paladar, é linguagem do corpo com o mundo. Quando dietas da moda cortam alimentos sem critério, cortam também camadas da nossa história. Cortam encontros. Cortam rituais.


Veja o leite. Demonizado por anos, volta agora à cena com outros olhos. Estudos recentes associam o consumo moderado de leite a benefícios como a redução do risco de diabetes tipo 2 e o aporte de nutrientes fundamentais como cálcio e vitamina D. A ciência avança. E quando ela avança, o bom senso precisa acompanhar.


A saúde não está no extremismo alimentar, mas no equilíbrio sustentável. Não é sobre proibir. É sobre entender. Escutar. Aprender com o próprio corpo, adaptar-se às suas mudanças, acolher suas necessidades em vez de combatê-las com fórmulas prontas. Nutrir, no lugar de excluir.

A alimentação não deve ser um campo de guerra — mas um território de cuidado. De escolhas com fundamento, com presença e, sim, com prazer. Porque viver bem não é só acertar a conta dos nutrientes: é também respeitar o que pulsa, o que satisfaz, o que sustenta.

A ciência evolui. O corpo sente. E a verdadeira sabedoria é essa: comer com consciência, sem culpa — e com gosto.